Carta aberta d’ “A FAMÍLIA BENFIQUISTA” para o Fenerbahçe

Amigos turcos:

Hoje decidimos quem passa à final da Taça Uefa. Ou Liga Europa. Ou Taça das Cidades com Feira. Lembram-se disso? Era um nome giro. E, verdade seja dita, um conceito engraçado. Acho que as feiras ainda davam para o pessoal galhofar. Os gajos nos anos 50 e 60 é que a sabiam toda. Vocês têm feiras? São turcos, que estupidez. Claro que têm feiras.

Infelizmente, o futebol agora já não dá tanto para a galhofa. As coisas são a sério, há dinheiro envolvido, audiências. Impera o negócio. O espírito? Esse sobrevive nalguns clubes, nalguns adeptos. Ora nisso, hoje, temos de dar a mão à palmatória. Ou o rabo a torcer. Vocês torcem o rabo? São turcos, que parvoíce. Claro que torcem o rabo.

A verdade é que o vosso estádio tem um ambiente fantástico; a reputação dos adeptos turcos, e em particular dos vossos, é reconhecida aquém e além-mar. É certo que, por vezes, extravasam de forma demasiado efusiva a emoção que sentem durante o apoio ao vosso clube. Mas o que é o futebol para um adepto senão o excesso de emoção extravasada de forma efusiva?

Compreendam que vos respeitamos, e que apreciamos a vossa visita. E não levem a mal este texto, nem o entendam como moralista ou depreciativo. Não é. Serve apenas como aviso. Porque, pelo que percebi, apesar de serem um clube antigo, nestas coisas do futebol a sério são novatos.

De facto, nós não temos sido a equipa mais “europeia” do mundo. Nem da Europa. Nem sequer, admitamos sem problema, de Portugal. É, por isso, legítimo perguntarem em turco: “De onde vos vem, afinal, toda essa moral?” Vocês falam turco? São turcos, que tolice. Claro que falam turco.

Saibam que hoje, na realidade, não é o nosso primeiro conto de fadas. Nós, aliás, já não nos damos com fadas. Não queremos nada delas. Como amigas, só nos restam bruxas velhas. Temos calos nas mãos e nos pés. Cheiramos mal. Saibam que, como as fadas, a história tem medo de nós. Nós sabemos os seus segredos. Todos. Nem sempre com sucesso, nem sempre no topo, nem sempre bonitinhos. Mas vimos tudo; passámos por tudo. E, por isso, cheiramos mal.

Hoje, vamos entrar em campo já feios e porcos, corrompidos por um odor repugnante herdado de quem, antes de nós, ganhou tudo e de quem, antes de nós, perdeu tudo. O desporto que vocês praticam tem o nosso símbolo nos seus alicerces. Vão ver. Nós esperamos.

Percebam onde vêm jogar, para não tremerem quando a vossa comitiva aqui chegar. Não pensem que vêm jogar a um estádio ou contra uma equipa. Eles são 11, mas não jogam por eles. Jogam por nós. E, por eles, nós não deixamos que se jogue num campo.

Amigos turcos, considerem-se avisados. Com ou sem fadas, a vossa história termina hoje. A vossa história termina aqui.

Bem-vindos ao Inferno.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Luís Figueiredo

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