Tiago Ilori/Marcos Rojo: A Dupla Maravilha ou uma questão de sorte?

Se quisermos invocar os ingredientes certos para construir uma grande equipa, sem dúvida que um deles passa pela composição da dupla de centrais. Exige-se que individualmente se comportem à altura, mas mais importante do que isso, que entre ambos ocorra uma química difícil de explicar: O Bóson de Higgs da zona nevrálgica do terreno. Olhando para outros emblemas, o que seria destes sem as atuais duplas Luisão/Garay (Benfica), Ramos/Varane (Real Madrid), Ferdinand/Vidic (Manchester United), Subotić/ Hummels (Borussia Dortmund), entre outras?

Não se trata no entanto de um fenómeno recente, outrora a influência das duplas de centrais no sucesso das equipas era igualmente determinante. Quem poderá olvidar as saudosas parelhas que em muito contribuíram para o alcançar da glória como Costacurta/Baresi (A.C. Milão/Itália), Montero/Ferrara (Juventus), Hierro/Karanka (Real Madrid), Ricardo Carvalho/Jorge Costa (F.C. Porto/Portugal), Danny Blind/Frank de Boer (Ajax/Holanda), Puyol/Piqué (Barcelona/Espanha), Desailly/Blanc (França), Ricardo Gomes/Aldair (Brasil), etc.? Olhando para a atual realidade leonina, sem esquecer os bons cúmplices que por ali já passaram (Marco Aurélio /Naybet ou Phil Babb/André Cruz, entre outras), é notório que Tiago Ilori e Marcos Rojo provocam nos adeptos leoninos mais lúcidos um sorriso otimista. As exibições contra FC Porto, Benfica e Nacional são prova disso (quem pode esquecer a forma como o jovem português, em poucos metros de terreno, alcançou Rondon para rapidamente lhe tirar o pão da boca e o golo à ponta de lança do defesa argentino nos últimos minutos do encontro?, ou como os 2 anularam Jackson Martínez o principal goleador do campeonato português), claramente um entendimento que só o treino não consegue explicar.

Se Marcos Rojo assumiu desde cedo a figura do patinho feio (quiçá porque os sportinguistas exigem que um jovem central internacional quando chega ao clube deve desde logo transformar-se no novo Franz Beckenbauer do futebol contemporâneo sob pena de se tornar merecedor de todas as críticas possíveis e imaginárias), não obstante ser evidente que tem tudo para ser uma referência do futebol europeu (o nível que revela na saída de bola, jogo de cabeça defensivo e ofensivo, velocidade, jogo de pés, polivalência, carisma, voz de comando, remate de longe e impetuosidade normalmente não está reunido no mesmo atleta), basta-lhe apenas continuar a evoluir tacticamente, ganhar confiança, melhorar no posicionamento e moderar a forma como por vezes recorre à falta. Já o português, de ar tímido e jeito franzino, faz do jogo aéreo o seu habitat natural, mas principalmente da velocidade o seu ponto forte como que contrariando as leis da física. Não corre, galga, realidade contra-natura para atletas de 1,90, habitualmente algo lentos e duros de rins. Precisa apenas de serenar e aprender a colocar com mais preceito a bola (já que ninguém lhe exige que seja um André Cruz ou um David Luiz com esta), pois tem todas as características para singrar, tornando ofertas de 1.5 M uma piada de mau gosto ou simples devaneio.

Sem prejuízo da qualidade individual dos dois elementos (mas que o espirito kamikaze leonino tratará de aniquilar, argumentando que um é lateral, pois a central não presta, o outro é muito novo e trazendo à colação um outro elemento que tão boa conta tem dado de si no meio campo defensivo), o que mais salta à vista é a cumplicidade manifestada, como quem diz ao mundo que foram feitos um para o outro. O que não é alheio o facto de um ser esquerdino (algo pouco comum) e outro destro, ambos serem jovens, terem margem para evoluir e características que funcionam em cheio (velocidade, domínio no jogo aéreo, qualidade no 1 contra 1, liderança e força do argentino, calma e postura do "Varane" português). Separados à nascença quis o destino voltar a uni-los, garantindo-lhes desde já o futuro assim o percebam os adeptos (deixando de morder na mão que lhes dá de comer), a direção (impedindo que lhe escape entre os dedos tao auspiciosa dupla) e o treinador (continuando a aposta na pedagogia, vertente onde Jesualdo é sem dúvida um dos melhores do mundo). Até onde poderá ir a dupla Ilori/Rojo? Deverá o Sporting manter esta dupla, construindo todo o ADN a partir destes dois cromossomas ou terá sido o fator “sorte” a construir o mito? Seria um erro enorme em termos de mercado (vai valorizar com o Mundial 2014), e desportivo (há muitos anos que os leões não tinham uma dupla com estas características: altura, velocidade e qualidade com bola), vender Rojo? Em que lugar, numa perspetiva de futuro, coloca a dupla leonina no panorama mundial (quem não está a par do paradigma leonina justificará que jogam de olhos fechados e que recorrem à telepatia, complementando-se tão bem, porque há muito que o fazem juntos)?

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Sérgio Tomás

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